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A influência da depressão na cultura pop

Não é de hoje que o cinema aborda sobre o tema, mas você sabe por quê ele é tão recorrente atualmente?

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Paula Moran

Os produtos culturais como a arte, a literatura e, principalmente, o cinema, foram, por muito tempo, os responsáveis por retratar problemas que atingiam a sociedade quando ninguém mais discutia sobre eles. Falar sobre transtornos mentais e psicológicos ainda é um tabu - mas a arte sempre foi uma amiga ao explorar o problema, utilizando-o até mesmo como parte do processo criativo.

 

Mas nem tudo são flores, não é mesmo? Em muitas e muitas vezes, os transtornos psicológicos e a própria depressão foram retratados de maneira errada - muito errada. Ultimamente, a série 13 Reasons Why, com sua primeira temporada lançada no ano passado, em 2017, foi alvo de uma grande polêmica ao tratar sobre temas como o bullying, assédio sexual e suicídio. A personagem principal, Hannah Baker, comete suicídio após sofrer surtos severos de depressão devido aos traumas e, ao procurar ajuda, seus problemas acabam sendo subestimados diversas vezes, o que a levam a cometer o ato. Nas redes sociais, milhares de pessoas criticaram positivamente e negativamente a abordagem do seriado.  

 

“Uma enxurrada de elogios pela coragem de abordar abertamente temas que são minimizados ou então que simplesmente não são discutidos entre os jovens, como o suicídio, na mesma proporção da avalanche de críticas que condenava a produção por tratar de temas tão complexos e pesados sem alertar a audiência mais sensível. Segundo os críticos, a atração teria o potencial de estimular o suicídio e contrariaria recomendações da OMS quanto à forma que o assunto deve ser tratado pela mídia.”, segundo artigo do blog “Ser mãe” do Estadão.

 

Acerca da repercussão da série, a psicóloga Ana Beatriz Pedriali afirma que um dos principais problemas desse efeito é a falta de empatia por parte das pessoas, que muitas vezes fazem piadas sobre o assunto e subestimam o que a pessoa está passando. Isso acaba piorando ainda mais os quadros de pessoas que já sofrem com os transtornos. “É importante que os pais estejam atentos e queiram discutir isso com os filhos, pois será mais fácil diagnosticar o problema e, de alguma forma, prevenir problemas futuros”, explica.

 

Hoje, a parte destinada ao seriado no site da Netflix, possui diversos avisos de conteúdo sensível e alertas, em vídeo, dos próprios atores acerca da trama e do conteúdo no início da série e no final de cada episódio.

Abordagem da doença no cinema promove o debate

O professor e crítico especialista em cinema e comunicação Paulo Camargo, explica que, muitas vezes, os transtornos psicológicos são tratados de maneira superficial, o que também desencadeia uma banalização acerca do tema. “Nos dias de hoje se fala infinitamente mais à respeito de transtornos psicológicos do que se falava há 20, 30 anos atrás. Hoje em dia os jovens falam disso de uma maneira muito mais aberta, o que tem o seu aspecto positivo, porém eu acho que existe também uma certa banalização desses temas”, afirma.  

 

Camargo diz que percebe a existência de uma excessiva medicalização e observa, nos alunos dele e outros jovens, um consumo muito grande de remédios como se fossem, em suas palavras, “pílulas mágicas” para os problemas do dia-a-dia. “Você patologizar tudo e transformar tudo em doença é tapar o sol com a peneira, porque na verdade existem outros aspectos que precisam ser abordados. Eu acho que se é doença, é doença, mas há questões psicológicas que precisam ser trabalhadas. A terapia é importante, enfrentar os problemas é importante e nem tudo que é difícil é necessariamente patológico”.

 

Ele explica que a depressão sempre esteve nas temáticas de livros, músicas, peças de teatro e filmes, e sempre foi abordada de alguma forma. Para ele, isso pode ser positivo porque discute e aborda de uma forma crítica e profunda ou de uma forma superficial e glamourizada, o que não é bom, mas promove o debate em prol da conscientização.    

 

O que os espectadores pensam sobre isso?

Em uma pesquisa realizada por meio de uma enquete no Instagram, dos 41 participantes, 46% se sentiram mal ao assistirem filmes e séries (em especial, a série 13 Reasons Why) que tratam sobre transtornos psicológicos, mas 28% acham que isso não piorou sua condição. 54% se identificaram com os personagens ou temas abordados nos filmes e séries e 42% procuraram ajuda ao sentir um gatilho emocional - quando o espectador se identifica com alguma situação traumática mostrada no filme ou série e logo tem uma crise ou surto desencadeados por isso. 90% acham que tratar sobre o assunto das doenças psicológicas no cinema é algo positivo.

 

É preciso mostrar uma solução

Para a estudante de Artes Visuais Kelsie Gonçalves, que sofre de depressão, é necessário que, ao abordarem os temas dos transtornos psicológicos, os filmes também mostrem uma solução para esses problemas. “Gosto de filmes que abordam o tema, mas não de forma central, uma história em que um personagem tem depressão e isso não é a causa central do filme, é só um fator a mais. Quando o filme desenvolve várias coisas além disso e mostra a vida de cada um, seus motivos e como lidam com a vida. Esses filmes mostram uma saída, uma alternativa para aquele problema, então eu fico bem”.

 

Sua opinião acerca da série 13 Reasons Why é a forma como esses problemas são abordados de maneira irresponsável e explícita: “Me senti super mal, ativou muitos gatilhos, chorei de ódio, tive ansiedade, não consegui dormir, fiquei com dor de cabeça de tanto stress que essa série desencadeou”.

 

Kelsie também diz que vê uma romantização das doenças psicológicas devido aos temas sempre serem retratados de forma bonita, quando na verdade não são. Ela acredita que, por não mostrar uma saída para os problemas, a série o incentiva o suicídio. Ela acrescenta que vê uma constante conscientização nas redes sociais mas, que na prática, isso não acontece. Então, é preciso que o assunto seja discutido de forma clara e recorrente.

Mais filmes e séries que tratam sobre o assunto

Filmes e Séries

Pequena Miss Sunshine (2006)

Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Distribuição: Fox Searchlight Pictures

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O sonho da pequena Olive é participar de um concurso de beleza e cruzar o país em uma Kombi com a sua família parece ser a solução para alcançá-lo. No filme, a abordagem acerca da doença está, justamente, no convívio da família e como eles lidam com a depressão - que atinge cada personagem em algum nível.

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As vantagens de ser invisível (2012)

Direção: Stephen Chbosky
Distribuição: Summit Entertainment​

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O filme explora a vida de Charlie, um adolescente que tem depressão e tendências suicidas depois de ver a sua tia se matar. O longa mostra a dificuldade de uma pessoa com essa doença em manter suas relações pessoais, o universo vivido pelos jovens que passam por isso na escola e como lidam com essa situação.

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As Horas (2003)

Direração: Stephen Daldry

Distribuição: Paramount Pictures e Miramax Films

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Baseado na história da escritora Virginia Woolf quando tentava finalizar o seu romance “Mrs. Dolloway”, em meio a uma grave depressão, o filme retrata a vida de duas mulheres que sofrem do problema em diferentes épocas.

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Garota, Interrompida (1999)

Direção: James Mangold

Distribuição: Sony Pictures

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A história gira em torno de Susanna Kaysen, personagem vivida por Winona Ryder, que é diagnosticada com transtorno de borderline e enviada à um hospital psiquiátrico onde conhece várias mulheres que também sofrem com diferentes problemas e transtornos psicológicos.

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Geração Prozac (2001)

Direção: Erik Skjoldbjaerg

Distribuição: Miramax Films

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A jovem Lizzie Wurtzel é aceita em Harvard enquanto lida com uma forte depressão. Em meio ao abuso de drogas e sexo, a doença, ainda um tabu, afeta as relações pessoais da personagem, assim como a ela mesma. Neste filme, a depressão é retratada em sua forma mais verdadeira, mostrando como é difícil estar na pele de quem convive com esse transtorno.

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Bojack Horseman (2014)

Criada por: Raphael Bob-Waksberg

Distribuição original: Netflix

 

A série é uma sátira que gira em torno de um cavalo chamado Bojack Horseman, uma ex-celebridade de um programa de TV dos anos 90 que, em meio a vícios, convive com a depressão e tenta se reestabelecer na vida.

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Mr. Robot (2015)

Criada por: Sam Esmail

Distribuição original: USA Network

 

Elliot Alderson é um engenheiro e hacker que sofre de depressão e fobia social, problemas que acabam afetando e atrapalhando a sua vida pessoal e profissional. Com o passar da trama, seus problemas acabam se agravando na medida em que ele precisa resolvê-los.

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